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Comunicação em campo, como não encarar?

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Antes mundo rural era distante, era carta, rádio e carro-de-boi. O tempo e as notícias caminhavam lentos, para se fazer saber e entender levava meses. Agora mundo rural é mais urbano, é tudo de perto, planos em lapso, roda mundo, caminha o email, em instantes chega um turbilhão de mensagens. Mas, chegar não quer dizer alcançar, por isso, mesmo que apressadas, a informação e, sobretudo, a sua comunicação ainda se enroscam em falhas como se passassem em um arame velho e bambo, é preciso esticar e alinhar para que realmente fluam e ultrapassem as divisas do conhecimento.
A cadeia da carne vive um momento de muita informação, há informes e boletins de cotações e análises técnicas quase que diários. Com apenas um clique, um pecuarista dentro e fora da porteira consegue saber tudo que acontece no mundo. Se antes o desafio era ter a informação, agora o interpretar se faz mais importante: o que me diz essa informação? Todavia, informação demasiada em terreno não preparado é como um lote de bois amontoados em um corredor estreito, conforme se avoluma uma hora algum estoura a cerca, vazam bois e a compreensão campo a fora. Para se manejar comitivas de dados assim, é preciso corredores mentais amplos, expandidos pelo conhecimento, encerras bem definidas pelo discernimento e, principalmente, “trieiros” bem batidos pela experiência e vivência, onde se sabe onde se pode chegar.

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Um pecuarista hoje se comunica intensamente e de várias maneiras com sua equipe, pares e mercado. Tem aplicativos, planilhas em nuvem, softwares e satélites. É bem mais dinâmico que o formato que os antigos contam, quando as fazendas compilavam poucos dados, quando muito um manejo de contagem e aferição por ano, era o então “trabalho de gado”, onde se obtinha os animais para a venda e uma sutil noção das taxas de produção. Por ser dinâmico e muitas vezes fugaz, o momento atual da produção pecuária clama por uma comunicação mais eficaz, desde a orientação dos peões na lida até a negociação com países consumidores da nossa carne. Por mais que se tenha aumentado a frequência e a intensidade da comunicação, muitas vezes a mensagem central não é passada com exatidão. Portanto, transformar dados em informação, manipulá-la gerando conhecimento e transmiti-lo com assertividade talvez seja hoje o tal “pulo do gato”, o advento de um modelo mental e comportamental que será fundamental para a perpetuação da atividade nesse contexto global.
Comunicação eficaz é conseguir transmitir o sentimento de dono aos seus capatazes e peões, gerando confiança e engajamento, o que reduz a rotatividade e é substrato para equipes realizadoras. Comunicar de forma eficaz é conseguir mostrar ao brasileiro urbano como a carne é feita com respeito ao meio ambiente e as leis trabalhistas. Comunicar de forma eficaz é demonstrar aos europeus que a pecuária no Pantanal, por exemplo, é uma grande ferramenta de preservação que convive com a fauna e flora pantaneira há mais de 200 anos. Comunicar de forma eficaz é, pelas direitas ou esquerdas, trazer à tona os problemas da pecuária e buscar o debate para a resolução, sem receio de tentar. Comunicar de forma eficaz é, como disse um companheiro do pó da estrada e incentivador Rodrigo Albuquerque, “um ato de coragem”, buscando unir campo e cidade, ciência e vivência, pois afinal já não há mais fronteiras, vivemos em uma Agrossociedade, já dizia Tejon.

Texto por José Pádua

Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP, Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal, Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário, Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.

2 Comentários

  1. Um texto melhor que o outro José…parabéns !!! Sempre muito agradável e esclarecedora leitura…

     

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