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Eu sou da América do Sul

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Nos últimos meses o trabalho tem me dado a oportunidade de percorrer  fazendas e atender projetos agropecuários no  Paraguai e Bolívia, assim como no Brasil é impressionante a pujança do agronegócio nesses países, move a economia e a sociedade. Apesar de grandes avanços socioeconômicos nas últimas décadas, ainda nos assusta no campo a recorrente baixa escolaridade dos trabalhadores e infra-estruturas de estradas e comunicação precárias, desafios a serem superados nessa América do Sul que outrora foi palco de guerras e hoje tem na sinergia de seus países a força para mudar os rumos da produção de alimentos no mundo.

Fazendas que primam pela gerenciabilidade investem em ferramentas de gestão (softwares e gestão à vista), mas acabam esbarrando na baixa capacidade dos colaboradores em operar tais mecanismos. São nesses momentos que a falta de um ensino básico mostra suas garras, pois as dificuldades encontradas são em questões fundamentais como a leitura e a escrita. Ao mesmo tempo uma fazenda que busca ter os números nas mãos precisa de acesso por boas estradas, de uma boa internet e telefonia que façam produtos e informações chegarem em tempo e forma. Contudo, ainda é comum no Pantanal sul-mato-grossense, Chaco paraguaio e no Beni na Bolívia não se ter internet e poder levar até  10 horas para percorrer uma rota de 200 Km.

Nas feiras agropecuárias ao longo dos países sul-americanos já se fala em tratores autônomos, monitoramento de animais com drones e sensores climáticos de alta precisão, é a tecnologia dando passos largos e transformando as interações no agro. Mas quem irá operar tudo isso? Como iremos interpretar os dados gerados por essas ferramentas? Qual a cobertura de internet necessária? Sem uma formação básica educacional será muito difícil que os trabalhadores do campo sejam capacitados para manejar essas ferramentas, ao passo que os caminhos de terra, asfalto, fibra óptica e bits deverão ser muito mais robustos e capazes de se fazer chegar as informações e dados.

Apesar dessas dores, o Brasil compartilha com seus vizinhos um imenso potencial climático e de recursos naturais para a produção agropecuária. Incluo aqui também os argentinos, uruguaios, chilenos, colombianos, peruanos…Juntos esses países serão um dos principais celeiros do mundo, com terras produtivas, clima, técnicas de produção consolidadas e, sobretudo, canais de escoamento importantíssimos, via hidrovias, ferrovias e portos marítimos, podendo atender os quatro cantos do mundo. Apesar do MERCOSUL, os receios de cooperação herdados da Guerra da Tríplice Aliança, Guerra do Chaco e de governos populistas ainda habitam o inconsciente dos países sul-americanos, o que há de ser deixado para trás e definitivamente abrir os olhos para o potencial da sinergia entre esses países. Ações e projetos como o CREA (Consórcio regional de experimentação agropecuária), GTE (grupos de troca de experiências) e a Nuffield (instituição de intercâmbio técnico entre países) já são uma realidade e contribuem para permear boas práticas e soluções.

Desde os tempos primeiros, a América do Sul foi local de desbravadores que em empreitadas perigosas a começo em lombo de burro, depois na boleia de caminhões, cruzaram pontes de pinguela sem sinal de celular ou muito menos rede de internet em busca de terras para se produzir. Na labuta diária acabou sendo uma grande conquista conseguir abrir fronteiras e produzir sob tais condições inóspitas, o que de fato evidencia a força e capacidade do capital humano que nessas bandas à ferro e fogo se formou. A despeito de Brexit e Trump, os desafios da produção agropecuária serão vencidos pela união de forças, pela transformação que o conhecimento gera, transformando e lapidando o capital humano em empreendedores disruptivos e colaboradores engajados. Porém, como ouvi do Clube da Esquina, não precisa medo não, somos do mundo, somos da América do Sul. Eu sei vocês vão saber.

José Pádua

Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP, Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal, Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário, Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.

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