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Movimento: Por uma #carneforte! Da chama para a brasa!

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Após uma semana do escândalo da carne, muitas reviravoltas aconteceram.

De sexta a domingo passado, todos estavam condenando as empresas envolvidas, a favor da Polícia Federal e, com o apoio da mídia, não se ouvia outro assunto que não a “operação carne fraca”. Nossas redes sociais foram contaminadas de comentários sensacionalistas contra à carne, mas havia aqueles que cobravam uma posição. Em nota, repudiamos “o escândalo envolvendo os frigoríficos e as possíveis ações ilegais e antiéticas” e “lamentamos veemente que tais abusos inescrupulosos sejam responsáveis por manchar a imagem do setor e afetar negativamente os agentes que trabalham para entregar uma carne segura e de qualidade”.

Mas, não estava mais em nossas mãos, a imagem já havia sido denegrida e a imprensa toda repercutia. Com a velocidade dos compartilhamentos e a força dos likes, logo a polêmica cruzou fronteiras, ameaçando os principais mercados para os quais exportamos. Não demorou para que a UE e países como China, Chile, Japão e Hong Kong (principal mercado) suspendessem as importações de carne brasileira. O que foi de fato lamentável pois sabemos os esforços que foram feitos para que a nossa carne alcançasse novos mercados e melhorasse sua imagem no exterior.

Foi aí que quem não era do setor percebeu a gravidade da situação e sentiu os impactos que um escândalo como esse poderia causar na economia, passando a questionar as denúncias que a Polícia Federal tinha realizado. Da água para o vinho, ou do alface para a carne, a própria mídia que evidenciava os principais pontos da operação passou a desprestigia-la.

E, então, parecia que a carne finalmente tinha virado orgulho nacional. Milhares de #carneforte (movimento que por sinal nós demos início) passaram a circular nas mídias e as empresas envolvidas passaram a ser defendidas por muitos formadores de opinião, e o posicionamento das pessoas se voltou contra a mídia e a PF.

Obs. Não vou levantar uma discussão profunda, pois não é o mote, mas nas mídias sociais os comentários são sempre 8 ou 80. Em quando não há o problema de interpretação de texto, há a falta de opinião própria. Todos seguem “a onda” do viral, se está todo mundo falando bem, “vamos falar bem”, se está todo mundo falando mal, “vamos falar mal”. Vi algumas discussões dignas de dérbi de final de campeonato, exceto que não havia times rivais, mas profissionais do mesmo setor.

Como nosso foco é a informação e conteúdo, vamos direto ao ponto.

O principal ponto levantado em discussão foi que muitos julgaram a forma como a PF conduziu as operações, criando um barulho maior do que deveria, sem pensar nas consequências. Também, ao que consta até o momento, houve falta de parecer técnico e inconsistências, como a má interpretação dos áudios, o que levou até a se acreditar que o papelão estava sendo utilizado no produto, quando na verdade era na embalagem. Para minimizar os estragos, a PF e o MAPA fizeram uma nota em conjunto, alegando que o problema era pontual.

E o que podemos aprender com os acontecidos de forma a ter uma carne cada vez mais forte?  

Para não ter mais problemas pontuais, é preciso pontuar os fatos:

    • Polícia Federal Vs Empresas denunciadas: concordo que a PF pode ter se precipitado, que faltou parecer técnico e que não precisava de tanto holofote, tendo em vista as consequências que o setor inteiro está vivendo (carne estocada/barrada, frigoríficos reduzindo a atividade, incertezas com relação aos preços etc). Mas, há três pontos que precisamos considerar: (1) Parte da investigação está em sigilo, então não sabemos ao certo todas as denúncias. (2) A operação precisou chegar na PF. Em dois anos, como as empresas não souberam/tinham o controle? E (3) Se as denúncias forem comprovadas, é crime, independentemente de ser pontual ou não. E estamos falando de alimentos. Em dois anos, chegou a muitas mesas. Ninguém morreu (amém!), mas não deixa de ser uma irresponsabilidade e desrespeito ao consumidor. Se continuarmos com o discurso “mas erros (de má fé) como esses têm em todas as empresas, setores etc”, vamos continuar sendo a cultura do “jeitinho”, que tudo pode, que é normal tirar vantagem. Até quando vamos compactuar com isso? Até quando vamos achar normal alguns milhares, “só” um apartamento na praia, “só” um sítio no interior, “só” alguns “trocados” da obra do metrô, da creche, dos hospitais? “Só” alguns fiscais que adulteraram a carne em troca de dinheiro (caso seja comprovado).
    • Mídia: entende-se que foi sensacionalista tanto contra as empresas, no início, quanto contra a PF recentemente. Mostrou que pode mudar a reputação da noite para o dia. Mas, mídia quer audiência, está dentro do seu escopo. Se repercutiu fortemente os erros dos demais, isso por si só a faz errada? De forma exagerada a ponto de trazer consequências negativas para o país, pode ser. Mas, não sei até que ponto a responsabilidade deva cair sobre ela e acredito que o pior erro é o de quem comete o delito, não o de quem divulga.
    • Sistema de fiscalização: de fato os pontos críticos se mostraram pontuais. De 4.837 unidades produtoras, apenas 21 estão sendo investigadas, o que corresponde a apenas cerca de 0,5% que foi autuada e 2% da produção brasileira (fiscalizada). Dos 11 mil funcionários do MAPA, apenas 33 foram afastados.

Porém, embora tenha apresentado problemas pontuais e seja reconhecido internacionalmente, o sistema mostrou que possui limitações.

De acordo com o diretor-executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso – Acrimat (estado que não tem nenhuma planta investigada), Luciano Vacari, “o que foi colocado em cheque com essa operação da Polícia Federal não foi à carne brasileira. Foi o sistema de inspeção. Tem uma diferença gigante entre uma coisa e outra. O serviço de inspeção falhou”.

Para o Professor da ESALQ-USP, também do CEPEA, Sérgio De Zem, “a ineficiência do sistema está exposta. É o momento de retomar a discussão do tipo de empresa que queremos, qual o tamanho do mercado que elas dominam, o tamanho da receita. Essa é uma discussão que temos há muitos anos. Conseguimos abrir o sistema de fiscalização para todo mundo, de modo a deixá-lo mais eficiente e garantir que a maior parte da carne seja fiscalizada.
Mas a última pesquisa que fizemos mostrou que de 6 a 7% da carne bovina brasileira ainda não é fiscalizada – porque o país é grande demais, e não há o mesmo padrão em todos os estados. Temos que investir mais no sistema, para que seja mais homogêneo e transparente.”

De acordo com estimativas do IBGE, em 2016, 3,95¹ milhões de cabeças foram abatidas sem fiscalização, o que corresponde a 11,7% do total. O Prof. Continua:

“Defendo que o sistema precisa ser isolado da política do país, como é o caso de algumas agências reguladoras, com a função de serem independentes, com um corpo técnico que responda por irregularidades. O chefe da agência da defesa é nomeado pelo governo. Não segue o mesmo critério que a Anvisa ou a Anatel. O Uruguai tem um modelo mais transparente, com o chefe sendo indicado pelo governo e pela iniciativa privada.”

O Ex-Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em entrevista ao Jornal da CBN, cobrou uma fiscalização mais rigorosa em toda a indústria de transformação, o que também incluiria a criação de uma agência para essa tarefa.

Mas a nossa carne é segura? Eu posso continuar comendo?

Sim, nossa carne é segura e o S.I.F. garante essa segurança. Não podemos generalizaro problema da carne brasileira não é a qualidade em si, mas a corrupção. Porém, o que não falta na cadeia também são bons exemplos. Aqui no Blog mesmo sempre trazemos sobre excelentes iniciativas de pessoas, associações e empresas. São incontáveis os esforços para tornar nossa carne cada dia melhor. As mesmas que estão sendo investigadas também não podem ser generalizadas. Há pessoas e pessoas dentro de uma empresa e elas possuem sim muitos produtos e processos de muita qualidade. E o consumidor também precisa fazer sua parte. Pergunte para o açougueiro da loja ou supermercado sobre a origem da carne, confira se o local foi inspecionado e avalie o produto antes de passar no caixa. Não é para deixar de comer carne. Saiba identificar a qualidade.

Voltando para a crise. Depois de 7 dias…

Hoje, as notícias são que os mercados se fecharam para nós, os frigoríficos estão paralisando e demitindo funcionários. É muito preocupante. Mas, cerca de 80% da produção é para o mercado doméstico e pouco se fala do que tem feito aqui dentro para impulsionar o consumo.

E o produtor nessa história? Não pode ser resumido ao preço da @ do boi. A mídia solta breves frases como “não vou conseguir vender minha pequena produção e honrar minhas dívidas”. Mas, poucos se perguntam o que está passando na cabeça do pecuarista. De fato, ele muito provavelmente terá dificuldades de honrar suas dívidas. Mas, as empresas que doaram R$393 milhões a políticos (nas eleições de 2014), as mesmas que são o foco de investigação, precisam mesmo parar sua produção e demitirem seus funcionários em menos de uma semana?

A verdade é que essa crise evidencia ainda mais a desconexão que há no setor e a falta que faz uma gestão da cadeia.  Se a estrutura fosse sólida, não ruiria com facilidade. Sabemos que muitos produtores sofrem com as imposições da indústria. E, para eles, ao ver um trabalho de anos de criação e cuidado com o animal se transformar em um problema na indústria (mesmo que pontual) em função da corrupção, é frustrante. E, por acaso, em algum comercial vocês viram um produtor, ou uma fazenda? Pois bem, agora as empresas precisam muito mais do que ator global e de Hollywood para melhorar a sua imagem.

Mas, o pensamento Disney de gestão de crises ensina que “a culpa pode não ser sua, mas o problema sim”. Enquanto não se tem os culpados, não adianta querer jogar a culpa nem nas empresas, nem na PF, nem nas mídias. É preciso resolver o problema de imediato, ao mesmo tempo que é hora de repensar em gestão, estratégia, marketing e modelos. Percebam que a maioria dos frigoríficos investigados são do Paraná, estado das maiores cooperativas brasileiras. E, no entanto, nenhuma cooperativa esteve envolvida. Por que será? Eu arriscaria: valorização ao produtor/cooperado, gestão da cadeia e consequente controle de qualidade. É preciso aprender com eles!

Em suma, foi um grande baque para a produção, consumo e exportação de alimentos no Brasil. Todos sentimos, mas acredito que com a apuração correta dos fatos e atitude podemos sair desta crise fortalecidos.

Movimento #CarneForte

Mais do que compartilhamentos em mídias sociais, queremos começar um movimento para melhorar a reputação e imagem da carne bovina no país. E queremos fazer isso da forma que sabemos: divulgando as boas práticas de TODA a cadeia para o consumidor. Como? Defendemos a gestão e integração da cadeia, é hora dos bons se unirem para mostrar a força da nossa carne! Eu (Juh Chini), a Mirella e a Melina, somos as embaixadoras do movimento. Não podemos revelar tudo ainda, mas se você contribui para a pecuária (em qualquer fase da cadeia), entre em contato conosco e conte a sua história.

Vamos fazer das chamas, brasa! E o melhor churrasco que podemos fazer! #carneforte

Referências utilizadas:

¹ http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/ibge-abate-de-bovinos-recuou-32-em-2016-para-2967-milhoes-de-cabecas/

http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/reporter-cbn/2017/03/18/EX-MINISTRO-DA-AGRICULTURA-DEFENDE-CRIACAO-DE-AGENCIA-SANITARIA.htm

http://www.cepea.esalq.usp.br/br/documentos/texto/a-corrupcao-da-carne-entrevista-do-pesquisador-sergio-de-zen-para-revista-exame-edicao-de-marco-de-2017.aspx

http://www.olhardireto.com.br/agro/noticias/exibir.asp?id=24919&noticia=cadeia-produtiva-avalia-prejuizo-imediato-com-carne-fraca-e-pede-para-setor-nao-ser-colocado-no-banco-dos-reus

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/03/17/empresas-investigadas-na-carne-fraca-doaram-quase-r-400-milhoes-a-politicos.htm

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Juh Chini

Mestre em Gestão Internacional na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Economista na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ-USP). Fundadora do Blog da Carne, Líder de Inteligência de Marketing na @Tech, viajante, palmeirense e apaixonada por churrasco, família, amigos e uma mesa de bar. "A vida é a arte do encontro!"

1 comentário

  1. Esse artigo merece 1000 estrelas! parabéns amiga! TMJ Movimento #carneforte!

     

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