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No Acampamento Farroupilha, cada vez mais mulheres comandam o churrasco

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Com elas cuidando de churrasqueiras, longe vai o tempo em que o Acampamento juntava apenas homens para a festa

De longe até parece neblina, pairando na manhã de domingo sobre as centenas de cabanas de costaneira espraiadas pelo Parque Harmonia. Aí o sujeito se dá conta que é muito tarde para nevoeiro, que o sol já vai alto e brilhante no céu…e percebe que a névoa é fumaça, mesclada a um cheiro espetacular. Ela emana das churrasqueiras espalhadas pelos 351 piquetes do Acampamento Farroupilha.

Num dia de semana o normal é que seja um churrasco por piquete, ao meio-dia. Já no domingo… até quatro churrasqueiras por cabana, para dar conta da multidão de visitantes. Quem não pode passear lá em dia de serviço, no fim de semana mata a vontade de rever as tradições. Entre elas a do fogo de chão, com carne farta e música para acompanhar.

Não é exagero dizer que pelo menos mil fogueiras estavam acesas na Estância Harmonia no início da tarde domingueira, com o odor convidativo da graxa pingando na brasa como chamariz. O dia de céu limpo e calor intenso contribuiu para que milhares de gaúchos buscassem o acampamento, a convite dos amigos, mas também seguindo o faro e os instintos. Aliás, ainda bem que não choveu, porque os bombeiros recomendam que o fogo não seja aceso dentro das cabanas.

O cálculo é que no mínimo 50 toneladas de carne sejam consumidas até 20 de setembro. E pilotando muitas churrasqueiras lá estarão elas, as mulheres. Ainda são minoria nesse acampamento gaudério, mas é cada vez maior a presença e o empoderamento delas. Longe vai o tempo em que o parque, nos festejos preparatórios do 20 de Setembro, era ajuntamento de homem. Hoje elas acampam, dançam, cozinham e churrasqueiam. Que o diga a bartender Patrícia Cruz, 34 anos. No domingo ela caprichava na salga de pedaços de costela estirados sobre uma grelha, no piquete Estrela Gaudéria. O fogo era de lenha, “que dá mais gosto”. E partilhado entre vários assadores – ela, a única mulher.

— Fazem quatro anos que compareço, asso para um monte de colegas. Aprendi com o pai. Adoro costela de 12 horas, assada no chão, na vala, mas na correria fazemos esses pedaços menores mesmo. E dá-lhe pão com alho para acompanhar — recomenda.

A maioria dos piquetes não vende carne, apenas bebida (com ou sem álcool). Aos desejosos por um churrasco, basta chegar junto e trazer um pedaço de carne. O fogo está sempre ou quase sempre aceso, nem dá tempo de a brasa apagar. “O auge é ao meio-dia, mas durante o dia inteiro aparece algum retardatário com um naco de vazio, uma calabresa…”, descreve Eduardo Fonseca, que no domingo assava para uns oito companheiros.

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Espeto de maminha e outro de vazio, monitorados pela cartorária Luciana Jardim, agradou no piquete Morro da TaperaFoto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Perto dali, no piquete Morro da Tapera (da Associação de Servidores da Justiça), a cartorária Luciana Jardim se desdobrava em cuidados com um espeto de maminha e outro de vazio. Serviu ambos suculentos, tostados por fora, molhados por dentro.

— Como tem de ser. É o momento de levar adiante as coisas boas do Rio Grande e o churrasco é uma delas. Criei meu filho acampando por aqui, ensinei ele a assar aqui — comenta ela, apontando para o primogênito Axel, hoje um homem adulto.

Por falar em homens, o que eles fazem quando a mulher toma conta da churrasqueira?

— Dão apoio moral, bebendo. Elogiando — brinca Luciana, sob risos dos amigos. Todos de dedo esticado para uma provinha no vazio.

Foto de Capa: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Fonte: Zero Hora/Porto Alegre

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