Intensificação da área destinada à pecuária garante maior sequestro de carbono Fonte Divulgação Iepec

Pecuária sustentável e não vilã do meio ambiente

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A atividade pecuária tem sido há muitos anos considerada como vilã no que diz respeito ao meio ambiente, principalmente no que diz respeito a emissões de gases do efeito estufa (GEEs). Porém, ao contrário do senso comum, o pesquisador Eduardo Delgado Assad, da Embrapa Informática Agropecuária argumenta que a pecuária é, na verdade, uma sequestradora de GEEs. Segundo ele, embora o boi emita os gases, “um pasto bem manejado sequestra o carbono da atmosfera, bem como o retém no solo”, disse durante um evento em São Paulo.

Estudos realizados pela Embrapa e Rede de Pesquisa Pecus apontam que em uma simulação de balanço entre as emissões e remoções de GEEs em um processo de recuperação de pastagem possibilita a obtenção de um saldo positivo de carbono. Alguns sistemas de produção, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), e alterações na nutrição animal, como inclusão de aditivos na dieta bovina que melhoram a sua digestibilidade, são estratégias pesquisadas pela Embrapa e que têm potencial para diminuir as emissões da agropecuária. Isso ocorre porque os sistemas integrados retêm mais carbono e uma melhor digestão promove menores emissões de metano pelos animais (EMBRAPA, 2015).

De acordo com a pesquisadora Patrícia Perondi Anchão, da Embrapa Pecuária Sudeste, para manter o desenvolvimento do setor é necessário observar a dinâmica de gases de efeito estufa nos sistemas de forma holística. “Deve-se levar em consideração todos os compartimentos dos sistemas produtivos: solo, planta, animal e atmosfera, já que alguns componentes podem realizar a remoção dos GEE, reduzindo as emissões”, esclarece. Segundo a pesquisadora, pastagens manejadas de forma adequada sequestram grandes quantidades de carbono e contribuem, ainda, para o aumento de matéria orgânica na área, melhorando a fertilidade do solo e a qualidade da pastagem. O trabalho da pesquisadora constatou que a diferença líquida do balanço é positiva, com um saldo de 7,68 toneladas por hectare de CO2 sequestrado anualmente em pastagens recuperadas comparando-se à vegetação natural, garantindo o abatimento das emissões dos animais (EMBRAPA, 2015).

Após a 15ª Conferência das Partes em Copenhague, na qual o Brasil assumiu o compromisso de reduzir as emissões de GEE, foi criado o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC). E, embora a A meta para o setor agropecuário, conforme definido pelo Plano ABC, fosse de reduzir as emissões de 133,9 a 162,9  milhões  tCO2eq, o estudo de Assad e Martins (2015) revelou que com a adoção de tecnologias de baixa emissão de carbono, chegando a ter um potencial de reduzir 752,0  milhões  de  tCO2q./ano.

Mas o que isso significa?

Significa que a agropecuária brasileira pode passar de uma forte emissora de GEE para uma atividade eficiente em mitigação de carbono (OBSERVATÓRIO DO PLANO ABC, 2015).

“As técnicas propostas tanto no Plano ABC quanto na INDC brasileira (que é a continuação do Plano ABC, pós-2020), são sequestradoras de carbono, mas não estão sendo monitoradas nem computadas”, avalia Marina Piatto, coordenadora da Iniciativa de Clima e Agropecuária do Imaflora. “Caso haja adoção massiva de boas práticas agropecuárias, as emissões de gases de efeito estufa no setor seriam reduzidas em 40% comparadas às emissões projetadas para 2030. Entretanto, essa redução (e o efeito das boas práticas implementadas) só seria verificada caso o balanço de carbono do solo fosse incorporado na metodologia de cálculo”, disse.

observstorio abc
Fonte: Observatório ABC.

Porém, há ainda muitos desafios a serem enfrentados, tanto os de governança do uso do solo e da terra, políticas de crédito ao produtor, como os relacionados à participação de cada agente envolvido na produção. As barreiras políticas constituem outro entrave, pois há a dificuldade de fazer com que a remoção de GEEs seja reconhecida, considerada e validada internacionalmente. Segundo Assad, a mesma pode até mesmo vir a se tornar uma barreira técnica no comércio agrícola.

“Carne carbono Neutro”

Outras iniciativas também têm sido realizadas de forma a diferenciar a carne bovina produzida de forma sustentável, como a “Carne Carbono Neutro” (CCN), lançada no início do mês de junho durante o II Simpósio Internacional sobre Gases de Efeito Estufa na Agropecuária (SIGEE), em Campo Grande (MS).

CARNE CARBONO NEUTRO

A marca-conceito CCN atesta a produção de bovinos de corte em sistemas com a introdução obrigatória de árvores como diferencial, pois a presença do componente arbóreo em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta, IPF) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta, ILPF) neutraliza o metano entérico (exalado pelos animais), um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa que provoca o aquecimento global. Os sistemas integrados retêm mais carbono e uma melhor digestão promove menores emissões de metano pelos animais.

A presença de árvores influencia ainda no bem-estar animal. “A sombra natural, além de bloquear a radiação solar, cria um microclima com sensação térmica mais agradável. Assim, é oferecida uma condição de melhor conforto térmico, por se tratar de um ambiente com menor temperatura”, explica a pesquisadora da Embrapa Fabiana Alves.

Papel do consumidor

E eu, como consumidor(a), como posso participar deste processo? Não precisamos estar no campo para termos uma produção mais sustentável. Nós, como consumidores, temos o papel da compra consciente, valorizando estas e outras iniciativas, como garantia de origem, rastreabilidade, certificados etc. Saber o que você come e de onde vem o alimento já é um grande passo!

Referências Utilizadas

INFOMONEY. Pecuária não é vilã das emissões de gases estufa. Disponível em: <http://www.infomoney.com.br/mercados/agro/noticia/5190350/pecuaria-nao-vila-das-emissoes-gases-efeito-estufa>. Acesso em: 23 de jun. 2016.

ASSAD, E. D. MARTINS, S. Agricultura de baixa emissão de carbono – a evolução de um novo paradigma. Agroanalysis, 2015.

CAMPANILI, M. Agropecuária responde por 27% das emissões brasileiras. Observatório ABC. Disponível em:<http://observatorioabc.com.br/agropecuaria-responde-por-27-das-emissoes-brasileiras?locale=pt-br>. Acesso em 24 de jun. 2016.

EMBRAPA. Pesquisa desenvolve conceito Carne Carbono Neutro para produção bovina. Disponível em:<https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/13239171/pesquisa-desenvolve-conceito-carne-carbono-neutro-para-producao-bovina>. Acesso em: 23 jun. 2016.

EMBRAPA. Eficiência da produção pecuária reduz emissão de gases estufa. 2015. Disponível em:<https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/3170006/eficiencia-da-producao-pecuaria-reduz-emissao-de-gases-estufa>. Acesso em: 24 de jun. 2016.

ALVES, F. V et al. Carne Carbono Neutro: um novo conceito para carne sustentável produzida nos trópicos. Campo Grande, MS : Embrapa Gado de Corte, 2015.

OBSERVATÓRIO ABC. Análise dos Recursos do Programa ABC. Disponível em:<http://mediadrawer.gvces.com.br/abc/original/relatorio-4_gvces-versao-final.pdf>. Acesso em: 23 de jun. 2016.

BRAGA, G. J. Sequestro de carbono em pastagens cultivadas. Pesquisa e Tecnologia, v. 7, n. 1, 2010.

Referências sugeridas

FGV. Intensificação da pecuária brasileira: seus impactos no desmatamento evitado, na produção de carne e na redução de emissões de gases de efeito de efeito estufa. 2016. Disponível em:<http://gvagro.fgv.br/sites/gvagro.fgv.br/files/u5/Completo_Pecuaria-Site-FINAL.pdf>. Acesso em: 23 de jun. 2016.

Conant, R.T. et al. (2001) Grazing land management and conversion into grazing land:effects of soil carbon. Ecological Application, 11:343-355.

Soussana, J. F. et al. (2007) Full accounting of the greenhouse gas (CO2, N2O, CH4) budget of nine European grassland sites. Agriculture, Ecosystems and Environment, 121, 121-134.

Sollenberger, L.E. et al. (2002) Nutrient cycling in tropical pasture ecosystems. p. 151–179.In A.M.V. Batista et al. (ed.) Reunião Anual da Soc. Bras. Zootecnia. 30 July–2 Aug. SBZ, Recife, Pernambuco, Brazil.

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Juh Chini

Mestre em Gestão Internacional na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Economista na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ-USP). Fundadora do Blog da Carne, Líder de Inteligência de Marketing na @Tech, viajante, palmeirense e apaixonada por churrasco, família, amigos e uma mesa de bar. "A vida é a arte do encontro!"

2 Comentários

  1. Sobre a questão dos GEEs, o que me preocupa (e sou um bocado cético a esse respeito), “Aquecimento Global ANTROPOGÊNICO”, é que a cada COP do Clima, os representantes dos países produtores queiram ler na cartilha dos ambientalista (somos todos preocupados com questões ambientais), aparecer bem na foto, e assumir, a cada reunião das partes, metas mais ambiciosas, e, infelizmente, sem o respaldo de uma ciência séria. IPCC para mim é enganação, vejam sua história, leiam, por exemplo, um livro: Os melancias, por David Darlimpole e reflitam. Esse tema, aquecimento global, esconde muitas armadilhas.

     

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