Em toda fazenda produtora de carne que se preze é fundamental a existência de um Projeto produtivo dentro e fora da porteira. Para traçá-lo, primeiramente, identifica-se o atual momento da fazenda, o Diagnóstico. Segundo passo é definir as metas e determinar como e quando serão alcançadas, o Planejamento. Terceiro passo é determinar a métrica de acompanhamento para saber se o plano está sendo cumprido, a Implantação de Controle. Quarto passo, não menos importante, é a análise e tomada de decisão sobre fatos e dados, o Desenvolvimento Gerencial e Técnico. Para cada uma dessas etapas, durante essa minha ainda curta carreira, pude ouvir frases de grandes mestres que as descrevem muito bem.
“Sempre que chegar em uma fazenda olhe bem tudo ao redor, gado, gente, estrada, cerca e pasto, lembre de outros lugares, preste atenção nos detalhes”. Essa frase do meu pai ecoava na minha mente toda vez que eu visitava uma fazenda nova com ele, por não ser grande amigo do Excel, ele se atentava e anotava as características estruturais, o que somado à sua vivência prática lhe dava fortes subsídios para a avaliação. “A fazenda deve ser como qualquer outra empresa do nosso grupo, temos que ter seus custos e resultados checados, comparados e muito bem claros para toda equipe”, dizia expressivamente um grande empresário brasileiro com propriedade no Paraguai quando a primeira vez eu pisava naquelas terras. A junção dessas duas frases congrega os itens do dito Diagnóstico, momento em que se determina o ponto de partida da fazenda sob a óptica dos números e da experiência.
“Toda fazenda deve ter um propósito produtivo e um sonho que toquem o coração e o bolso.” Assim falava persuasivo Antônio Chaker no primeiro treinamento que fiz com ele. Sua concepção é que antes da escolha das técnicas, pessoas e sistema produtivo, a fazenda deve ter muito bem determinado a sua filosofia de existência, seja ela pautada em rentabilidade, qualidade ou quantidade. Sobretudo, deve estar alinhado aos anseios dos proprietários e/ou diretores, pois tudo é possível: produzir carne magra, carne gorda, carne à pasto ou carne em confinamento. “Planilha de excel é a melhor ferramenta para engordar boi”, disse me um dia o amigo Jânio Alves, companheiro de trabalho, na sua corriqueira ironia. Sem dúvida planilhas e softwares são fundamentais em qualquer projeto produtivo, contudo, a validação com aqueles que são os executores, falo aqui dos gerentes e capatazes, é de suma importância, pois muitas vezes um planejamento não alinhado à realidade e particularidades de determinadas regiões pode pôr tudo a perder.
“O Brasil é um país em que as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada”, assim proferiu coeso o centenário pecuarista e agrônomo, Sr. Fernando Penteado. Tal frase tem sua aplicação na realidade rural, visto que ainda é comum encontrarmos fazendas que não possuem dados, nem mesmo histórico de resultados e gastos. Esse senhor que se formou na década de 20 viu a pecuária passar por diversas fases, inclusive aquelas em que a gestão das informações não era assim tão importante. Entretanto, essas duras palavras se fazem hoje muito atuais, pois na volatilidade atual dos mercados, gestor pecuário que não tem segurança e certeza de seus números está sujeito a contratempos desastrosos, de maneira que deverá se desvencilhar dos “achismos” para executar e acompanhar seu projeto produtivo.
“As fazendas que alcançam seus objetivos são aquelas que planejam muito bem e, sobretudo, executam o plano em tempo e forma”. “As decisões precisam ser tomadas sob fatos e dados”. As duas frases de Rodrigo Patussi, também amigo e companheiro de estrada, fazem valer a máxima que grandes avanços se fazem no dia a dia, no monitoramento de perto de cada etapa do processo dentro e fora da porteira. Exige atenção aos números e àquilo que foi planejado, previsto e orçado e, quando necessária a tomada de ação, que seja com coerência, embasada em informações e registros.
Frases, sapiência, experiência, projetos, números, começo, meio e fim… São elementos que de um modo ou de outro têm suas essencialidades nessa produção de carne, árduo e nobre ofício, que exige a incansável lida no campo e nos escritórios, no arreio e nos computadores, em prol da alimentação do mundo.
Texto por José Pádua
Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP, Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal, Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário, Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.
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Nossa, muito bom este blog. Ahei de grande ajuda a qualquer pecuarista sério. Eu crio uns boisinho aí, mas n é muita coisa não. Mexo msm é com reboques para cavalos, aí a gnt acaba vivendo nesse meio tb 🙂
Caso alguém tenha interesse: Reboque para cavalos. Vlw!