Recria: meio caminho inteiro

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Como já vimos, no processo de produção pecuária há três importantes fases cronológicas: a cria, a recria e engorda/terminação. Dando continuidade ao texto anterior, vamos adentrar agora na fase da Recria. É um período crucial em que o animal deverá crescer e se desenvolver até atingir a conformação muscular necessária à terminação. Tal processo exige técnicas específicas que determinarão o tempo de duração dessa etapa, adiantando ou atrasando a engorda. Uma jornada criteriosa para podermos produzir melhor, com mais e em menos tempo, pois o mundo clama por alimento de qualidade e dignidade para com os animais.

Assim que desmamados entre 193 a 213 kg em média (Dados Terra), bezerras e bezerros, começam a trilhar seus próprios caminhos. Os primeiros dias não são fáceis, já que toda separação gera algum tipo de estresse, por isso, algumas fazendas usam vacas e touros como “padrinhos” para guiarem os jovens no novo ambiente. Algumas medidas de manejo por parte dos vaqueiros também são muito válidas nesse momento, tais como conduzir os animais até os locais de água (bebedouros) e suplementos (cochos). Ao mesmo tempo, essa ação é um estímulo ao reconhecimento da área, dando aos animais mais confiança para pastorear no novo habitat. São práticas de manejo simples que têm grande efeito na arrancada, além de  garantir duas das cinco liberdades do bem-estar animal segundo a Farm Animal Welfare Council (FAWC), quais sejam, “livres para expressarem seu comportamento natural” e “livres de medo e angústia”.

O início da fase de recria geralmente coincide com o período mais seco do ano, de maio a agosto, enquanto nessa fase da vida os animais têm alta exigência nutricional, além de serem mais seletivos em relação à característica da pastagem disponível. Portanto, é fundamental a preparação de áreas com boa oferta de pastagem (maior proporção de folhas nas plantas), ainda que seca devido à época, em conjunto com suplementos protéicos que contribuam para uma melhor digestibilidade e aproveitamento dos nutrientes do capim. Apesar do crescimento da adesão dessas medidas na pecuária de corte, ainda há quem não as use no Brasil, gerando redução de desempenho e até mesmo perda de peso. Proporcionar uma adequada nutrição não somente provê condições para um maior ganho de peso, sobretudo, garante outras duas das cinco liberdades sugeridas pela FAWC, “livre de fome e sede” e “livre de desconforto”. 

Vencida a época da seca, quando chegam as águas em fim de outubro, os pastos começam a rebrotar e retomar o verde vivo, sinal de fartura e maior concentração de nutrientes disponíveis. Para que os animais aproveitem ao máximo esse momento é salutar que tenha sido adotada a administração de vacinas, fármacos específicos e vermífugos, proporcionando, assim, maior capacidade fisiológica ao desenvolvimento, além de completar as cinco liberdades da FAWC, garantindo que estão “livres de dor, ferimentos e doenças”. Nesse ponto o potencial genético dos animais é determinante ao desempenho, pois em condições fisiológicas e naturais semelhantes, um animal geneticamente superior pode desempenhar melhor que seus pares.

Os objetivos finais da recria são muito diversos, assim como seus resultados zootécnicos e econômicos. O processo gerencial, o potencial produtivo das áreas e a cultura do  pecuarista irão ditar o perfil da recria, intensiva ou extensiva, lucrativa ou não. Há quem preze por um animal com crescimento constante, pronto à terminação com 15 meses de idade e 400 kg, ou por outro que chegue no mesmo peso com 24 meses, ora ganhando peso, ora não. Essa
segunda realidade é mais comum na nossa Pecuária, a qual ainda tem muito a evoluir na sua recria, que apesar de ser o meio, quando bem conduzida é quase o caminho já inteiro, tamanha a importância para a produção.

De todo modo, criar animais mais produtivos e lhes proporcionar condições ideais ao seu desenvolvimento podem garantir a rentabilidade do negócio, ao passo que vai de encontro com a demanda mundial por mais alimento e qualidade, tendo no seu processo a marca do respeito aos animais.

José Pádua

Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP,  Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal,  Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário,  Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.

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