Outros olhares sobre os alimentos: escolhas
Você já parou para pensar o quanto que as escolhas alimentares que você faz não são decisões exatamente “independentes” e “originais”?
“Mas o que será que esta colunista quer dizer com isto”, você dirá ao ler esta assertiva. “Eu decido o que eu compro, o que eu consumo, o que eu prefiro… São decisões absolutamente individuais, sim! Faço o que bem entendo!”.
Calma lá, antes que eu perca sua atenção, deixe-me explicar. O que comemos, o que consumimos, o que gostamos e o que desgostamos é fruto de uma enorme influência da cultura alimentar na qual fomos criados. O que comemos quando éramos crianças, em nossa casa ou na casa de outras pessoas queridas, as memórias afetivas que alguns alimentos podem nos trazer (Ah, o bolo que minha avó fazia…), o que as pessoas gostam de comer na minha cidade, no meu bairro, no meu estado… E é claro, depois de ter sido alimentado inicialmente pelos gostos que nossa família, amigos, e outros relacionamentos nos apresentam, a gente tem algumas decisões individuais, sim. Mas nem tanto!
Quanto mais se tem a oportunidade de viajar e conhecer outras culturas, outros países, outros continentes, mais a gente percebe que a cultura alimentar é também fruto da disponibilidade de alimentos local, consequência, portanto dos tipos de alimentos que podem ser produzidos, cultivados, coletados ou mesmo caçados naquela região.
Os hábitos alimentares diversificados entre uma região e outra acontecem também por fatores do ambiente, como clima, tipo de solo, fauna, localização geográfica e por influência direta dos colonizadores que trouxeram também sua cultura alimentar ao imigrar.
Estes fatores explicam por que nas regiões litorâneas as pessoas consumam mais frutos do mar, abundantes.Em regiões pecuárias, mais carne de animais como bovinos e ovinos.
Vamos pensar em alguns exemplos nacionais. A forte e tradicional indústria leiteira de Minas Gerais nos dá os deliciosos pães de queijo e doce de leite. Aposto que quando você chega numa cidade litorânea como Salvador ou Florianópolis já pensa em comer frutos do mar. E quem não vai ao Rio Grande do Sul e já chega sonhando com carne bovina e churrasco?
Vamos olhar para alguns hábitos diferentes pelo mundo, que você talvez não tenha ainda observado. No Alaska, come-seo chamado sorvete de esquimó (mistura de gordura de animais de caça misturado à neve e frutas vermelhas nativas). No Japão, come-se ouriço do mar (sim, aquele cheio de espinhos). Na África do Sul, come-se o Kudu (um tipo de veado), no Canadá o Caribou (um tipo de rena), nos Estados Unidos o bisão, mas também belíssimos bifes de gado confinado em locais de pecuária como o Texas. Bem, e para os desavisados, informo que na Austrália come-se carne de canguru, na França o escargot, na Tailândia grilos, na Bélgica carne de cavalo e na China carne de cachorro (segundo eles, em regiões frias, o consumo desta carne esquenta o corpo).
Os exemplos são inúmeros. Você pode achar esquisito, discordar, concordar, não importa. O importante é manter os olhos abertos para as diferentes culturas alimentares, tanto no Brasil quanto em outros países, aceitar esta diversidade, e de vez em quando provar alimentos diferentes. Não é somente o nosso gosto e cultura que devem imperar!
Além disto, procure refletir sobre o quanto o ambiente no qual vivemos influencia também nossas decisões e escolhas alimentares. Que são independentes e individuais. Mas nem tanto assim.
Fonte consultada:
Alimentação e cultura. Publicado por NUT/FS/UnB – ATAN/DAB/SPS. Disponível em http://www.acomidaenossa.ufpr.br/wp-content/uploads/2015/12/alimentacao_cultura.pdf
Andréa Veríssimo
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