Semana passada entrei porteira a dentro na então maior feira agropecuária da América Latina, a Expointer em Esteio-RS. Em sua 40ª edição no formato atual, comemorando 116 anos desde a primeira realização, a Exposição mostrou a pujança do Agronegócio, cujos elos da cadeia estão muito bem inseridos na vida urbana gaúcha. A sociedade, ligada ou não ao Agro, admira e aprecia a feira, os mais de 400 mil visitantes diários demonstram que ela é prioridade no calendário, sinal de uma conexão bem feita entre campo e cidade, passado e presente, lição que aprendi e aqui quero lhes contar.
Esteio fica na região metropolitana da grande Porto Alegre, conglomerado de mais de 4 milhões de habitantes onde pulsa a vida urbana com indústrias e corporações, palco das principais negociações políticas e empresariais do estado do Rio Grande do Sul por alojar a sede do governo e das principais empresas e bancos. Entretanto, a rotina urbana é quebrada quando se chega final de agosto, a Expointer traz do interior do estado bovinos, ovinos, cavalos, máquinas, ginetes, sobretudo, a cultura campeira. Ao mesmo tempo, atrai de longínquas querências muitos expectadores, paulistas, sul – mato-grossenses, goianos, uruguaios, argentinos e paraguaios. Juntam-se aos gaúchos em busca de negócios, novas ferramentas e para também celebrar as tradições do campo que além do Sul, tem suas marcas em outros rincões do País e da América do Sul.
O interessante é que as tradições se fundem muito bem ao contexto atual das novas tecnologias e conceitos ali expostos. Pilchados como há mais de séculos, os participantes discutem sobre estratégias de melhoria na produtividade, dialogam com integrantes da sociedade civil e de outros setores da economia, querendo melhores resultados no campo e melhores produtos nas cidades. No gole quente do mate, as tradições se misturam a força do sangue novo dos jovens, dão espaço àqueles que buscam se inserir e contribuir à cadeia produtiva. Forja-se, assim, ao lado do fogo dos churrascos, ao som das vaneiras e chacareras, novas soluções carreadas num processo sucessório de empresas e fazendas, pontos fundamentais para a estruturação do setor agropecuário frente aos desafios socioeconômicos globais.
A despeito da fome, infelizmente ainda existente no Brasil e no Mundo, a feira nos apresenta uma produção de carne com quantidade e qualidade. Pude apreciar bons cortes de carne ao longo dos restaurantes das associações de raça bovinas e nos churrascos simples, mas muito apetitosos, nos pavilhões onde os criadores expunham seus animais. A tradição de se criar raças bovinas com boa qualidade de carne, adaptadas às pastagens nativas do estado mostram uma pecuária robusta e sustentável, que ainda pode produzir muito mais quando associada às novas técnicas e ferramentas de produção ali discutidas. Mais uma vez a tradição e a inovação proseando e se entendendo.
A Expointer me mostrou que é possível e necessário a tradição e inovação caminharem juntas. Defender tradições não é ser arcaico ou retrógado, o olhar e respeito ao passado é uma forma de auto-conhecimento para entender e encarar melhor o presente, aplicando conhecimentos de outrora para desafios atuais. Campo e cidade estão cada vez mais inter-dependentes, o bom diálogo e trânsito de informações entre os dois é primordial para a solução de problemas sociais que lhes são comuns e cada dia mais complexos, o que exige inovações que sejam realmente aplicáveis e alinhadas à realidade contemporânea. Em Esteio eu vi com clareza que o novo amanhecer é sempre coroado pelo velho sol.
José Pádua
Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP, Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal, Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário, Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.
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Excelente reflexão
Parabéns