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Cria: onde tudo começa

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Ao longo do processo de produção pecuária existem 3 importantes e cronológicas fases: a cria, a recria e a engorda/terminação. Todas elas com suas particularidades e dificuldades. Assim como se conta uma história, principiemos pelo começo. Vamos mergulhar aqui no universo da cria. É o momento da concepção das nossas matrizes, mas, sobretudo, de quando se concebe o propósito produtivo da fazenda, o que irá norteá-la às fases seguintes.

As atividades na pecuária de cria iniciam-se na escolha das matrizes (vacas e novilhas) e touros que irão entrar em reprodução. Tal eleição baseia-se em critérios zootécnicos pré determinados dentro do propósito de produção da fazenda (peso, conformação, precocidade, racial, etc.). Ao mesmo tempo, são eleitos os touros reprodutores que irão cobrir à campo e também o sêmen de touros que irão gerar filhos através da inseminação artificial. Feitas as escolhas, dá-se o período em que a reprodução irá ocorrer, a tal estação de monta. Normalmente, sua extensão é de setembro a fevereiro, podendo variar por região e clima. Assim como no plantio na agricultura, coincide com o período chuvoso e de maior luminosidade e calor, fatores que naturalmente determinam a viabilidade de um zigoto ou de uma semente. Mesmo com a mão assertiva do homem, é preciso o afago dos céus para que tudo de certo.

Após 30 a 45 dias do término da estação de monta, as matrizes são avaliadas quanto a prenhez por apalpação manual ou via ultra-som. As fêmeas prenhes são então separadas dos touros e passam a focar na finalização do processo de amamentação do bezerro que está ao seu pé, ao passo que o seu futuro bezerro se desenvolve dentro da sua barriga. As matrizes que não emprenharam podem ser reservadas para a próxima estação ou, na maioria das vezes, são destinadas à engorda para futuramente serem abatidas. Esse momento do ano, abril a julho, coincide com o período mais seco e de menores temperaturas, portanto, de menor oferta de alimento. Dessa forma, a combinação de oferta de comida conservada via silagem ou feno com o ajuste de carga animal por hectare são medidas fundamentais para a recuperação de touros e matrizes, bem como ao desenvolvimento intra-uterino dos bezerros. 

De forma geral, a partir de agosto tem se inicio as parições. Etapa crucial na pecuária de cria, pois os bezerros recém-nascidos exigem um manejo sanitário específico logo nos primeiros dias: “cura” do umbigo com produtos anti-sépticos e repelentes e a injeção de vermífugo contra endo e ectoparasitas. Tais ações reduzem o risco de mortalidade dos neonatos, a qual gira em torno de 4 %, mas pode chegar a 2 % conforme bom manejo. (Dados Terra/Inttegra). O cuidado e atenção com as mães também é imprescindível, as matrizes devem estar em boas condições nutricionais para amamentarem. Por outro lado, existe a possibilidade natural de rejeição, mais comum em novilhas, quando os bezerros são abandonados. Nesses casos, temos os “guaxos” (bezerros órfãos), os quais serão tratados com mamadeiras ou amamentados por vacas “guaxeiras”. A etapa de parição mostra que os funcionários que lidam com a cria exigem um perfil de capricho, atenção, detalhe e higiene.  Assim sendo, a gestão de pessoas também é pilar fundamental no sucesso da cria. 

Do nascimento ao desmame, os bezerros crescem sob a tutela de suas mães, misturando leite e capim, criando músculos e crescendo sob o sol e chuva nesse Brasil pecuário. Ao completarem 7-8 meses é chegada a hora da desmama, momento de deixarem  suas mães cuidarem de seus irmãos que logo irão nascer. É hora de seguir em frente rumo a recria. Seguindo a missão nobre de alimentar o planeta.

José Pádua

Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP,  Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal,  Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário,  Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.

1 comentário

  1. Parabéns, Zé. Excelente texto. Didático e esclarecedor, como sempre.
    Um abraço.

     

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