Segundo Mario Sergio Cortella, a Filosofia tem como grande ofício perguntar “porquês”, questionando tudo sobre a nossa existência e passando para a ciência a busca para a explicação, o “como”. Pois bem, tendo a carne como pano de fundo, buscarei indagar aqui alguns porquês da nossa cadeia produtiva, já que há muitos dilemas e mistérios entre campo e cidade nessa nossa sã existência. Deixo o “como” para uma outra, após consulta aos cientistas, dos quais sou fã e dou fé.
Semana passada estava em Santiago no Chile e ouvi de uma alemã de Munique que o consumo de carne se faz digno e gera menos impacto ambiental quando prestigia a produção local, da própria cidade ou estado. Por que? Por que nos sentimos melhor e talvez mais “leves” quando consumimos algo feito em nossa redondeza? O fato de ser local significa que o produto foi mais bem feito ou respeitou realmente mais o meio ambiente? Para a percepção do consumidor final da carne, por que é importante uma produção “digna”?
Nos últimos eventos de pecuária de corte que estive no Brasil por várias vezes ouvi de produtores rurais que a grande dificuldade dentro da porteira tem sido “gente”, em outras palavras, identificar, engajar e reter talentos humanos dentro da equipe da fazenda. Por que? Por que após o desenvolvimento de inúmeras técnicas de Recursos Humanos com a publicação de livros, vídeos, filmes e artigos ainda perdura a grande dificuldade do pecuarista em gestão de pessoas? Por que é importante ter engajamento nos funcionários dentro da porteira? O que isso tem a ver com produção “digna”?
Uma vez em conversa com jovens da Agropecuária, fui alertado por um colega que temos que ter cuidado com idéias e pessoas de viés de “esquerda”, as quais podem ser perigosas ao setor da carne, não estando alinhada com nossos ideais. Por que? Por que ainda pensamos em direita e esquerda? Linhas de pensamento sócio-econômico se dividem somente em certo e errado, bem e mal, vermelho e azul? O que é ser de esquerda ou direita no Brasil de hoje? Quais linhas de pensamento estão alinhadas à uma melhor produção de carne?
Mesmo na Medicina Veterinária, durante a faculdade conheci alguns estudantes de cursos das Ciências Humanas, de boa parte delas ouvia (e ainda ouço) duras críticas ao agronegócio brasileiro, tido como poluidor e ineficiente. Por que? Por que um setor que representa 20 % do PIB nacional e mantém 65 % da vegetação natural intacta ainda é visto de forma distorcida? Por que não temos mais representantes da cadeia da carne inseridos nas faculdades de Ciências Humanas? Por que o setor Agro se comunica tão mal com a sociedade civil? Por que ideologia muitas vezes sobrepõe constatações científicas e estatísticas?
São temas polêmicos e complexos que definitivamente geram muitas perguntas e, mais ainda, uma infinidade de respostas. Entretanto, o questionamento se faz e sempre se fará muito importante, principalmente ao nortear nossa busca de fatos e dados para embasar nossos posicionamentos. A mesma carne que em tempos primitivos proporcionou a evolução cerebral dos hominídeos, nos traz hoje além da satisfação e hombridade, uma inquietude filosófica, meio que existencial. Talvez seja reflexo de um mundo contemporâneo mais interconectado, sedento por explicações e, sobretudo, ávido por um propósito de existência.
José Pádua
Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP, Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal, Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário, Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.
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Excelente reflexão