Garantir boas práticas na produção já não é suficiente. Em tempos de acesso fácil à informação, a transparência com o consumidor em relação à origem das mercadorias – do produtor à gôndola do supermercado – é necessária para dar credibilidade aos negócios. Ao alcance de um smartphone, uma pessoa consegue saber com precisão de onde veio o produto que pretende comprar — tudo graças a tecnologias de rastreamento. A questão foi debatida no EXAME Fórum Agronegócio, realizado na manhã da última quinta-feira (29/09) em São Paulo.
Para a cadeia do agronegócio, sujeita a pressões crescentes para cumprir padrões de sustentabilidade, a solução ajuda a responder, por exemplo, a demandas por bem-estar animal e respeito às normas de proteção ao meio ambiente e aos trabalhadores. O rastreamento virou estratégia do setor garantir a almejada segurança da produção e, de quebra, ganhar confiança do consumidor.
“O mundo está mudando. Com o acesso à informação, o consumidor exige mais transparência. Ele acredita menos no que as instituições estão falando e cada vez mais busca, por conta própria, informar-se sobre os produtos que está comprando, além de saber se essas mercadorias se alinham com sua visão ética”, afirmou o diretor de sustentabilidade do Walmart, Luiz Herrisson.
A gigante do varejo Walmart iniciou o monitoramento da carne bovina que vende há dez anos e já rastreia 100% dos produtos, de mais 70 mil fazendas fornecedoras. Em seu compromisso global de sustentabilidade para 2020, a empresa dá atenção especial aos produtos transparentes. “Desconfiança é constante e global”, afirmou Herrisson.
Em grande medida, a entrada do agronegócio do Brasil no mercado global contribuiu, em muito, para os avanços em transparência. “Essa inserção nos traz um novo tipo de consumidor com demandas diferentes. Ele quer saber de onde veio o produto, como foi feito, se foi produzido de forma sustentável e quem é o produtor. Esse movimento exige transparência do setor, mas temos bases sólidas para responder ao desafio”, disse Fernando Galletti de Queiroz, presidente da Minerva Foods.
Segundo o executivo, as barreiras internacionais estão caindo e abrindo portas para a “vocação brasileira, que é o agro”. “No Brasil, estar no agro é sexy, porque esse é o setor que está puxando o país. Nós construímos uma base sólida de produção aliada à competitividade com respeito aos recursos naturais. Nós somos especializados em produzir grandes volumes. O desafio, agora, é a comunicação”.
Não é um tarefa fácil, mas é um passo necessário. A cadeia de produção de gado é bastante complexa. Os bois mudam de fazenda várias vezes em função da fase de desenvolvimento. Atualmente, segundo os executivos, o maior desafio é expandir o monitoramento aos criadouros que abastecem as fazendas fornecedoras.
A busca por maior transparência convoca à ação a tecnologia e a inovação. Para avançar nessa agenda, tem crescido a articulação entre empresas do agronegócio e startups. “Temos de mostrar a estrutura de conexão entre campo, produtor, consumidor e florestas”, pontuou Vasco Picchi, sócio-fundador da Safe Trace, empresa mineira especializada em tecnologia de rastreamento de produtos agropecuários.
Em uma das iniciativas desenvolvidas com o Walmart e a ONG The Nature Conservancy, a empresa instalou dispositivos em bois que permitem acompanhar todo o deslocamento dos animais, onde estiverem, o que comeram e com que produtos foram tratados. “Rastreabilidade nada mais é do que registrar um processo que está sendo bem feito desde a origem até o varejo. As tecnologias de informação contribuem para essa mudança”, afirmou.
Juh Chini
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