Com café amanheço, numa simpatia geral das Gerais, coração e cabeça misturados feito cural.
Fé matuta, saudade dos meus avós, lembrança da voz a aboiar vaca no curral. Orvalho e queijo
fresco, carne com quiabo, rumino e cacarejo, ovo e vida vivida, vide a bula do caipira, ouro de
mina, ê Minas.
No concreto piso, rasgo o asfalto em rodovias largas, garra e cultura, lucro e amor. São São
Paulo, amém. Indústria das várias cores, muitos povos, pujança de quatrocentos anos. Sopro
dos muitos ventos que te guiaram até aqui, firme e forte, do leite à cana, do boi para a carne,
de terra ao conhecimento, mas sempre a terra seu firmamento.
Desafinado canto de encanto ao ver o Pampa passar. Em timbre de galo, no romper da
alvorada, fumaça do trago, sorriso em nacos, chamas do passado. É preciso engarupar o futuro
e manter essa sina. Versos de algum lugar longínquo do Sul, de trova e galope, de estribo e
vinho, de costela e de chão, fulmina o brasão Rio Grande.
Agora só acredito no pulsar das comitivas, em música ternária em Dó sem drama. Sangue
platino ensimesmado nesse Grosso Mato no Sul do coração. Fusão de sabores e clamores,
terra do meio, palco da carne e do Sol, banquete de charque, festa de charme. Frieza no olhar,
mas só de passagem, como o trem que corta suas bacias.
Venceu a fome para cessar o que afligia. Fértil como a terra roxa, que da mão germana, da
força negra, do eito holandês, do tino italiano, do cálculo nissan, forjou a roça. Fez do chão a
maior riqueza, fartura com sotaque calabrês em solo brasileiro. Para aqui, para lá, adubando o
que dá, sempre Paraná.
Subida sem fim rumo a uma alta floresta. De riso, choro e espanto. Mato imenso, Grosso modo
para fino desejo: vencer. Estradas caídas, povo erguido. Alto e baixo, rico rincão. Ronca a
Serra, berra o boi, desabrocha o grão, germina o tão sonhado quinhão. Veste o horizonte,
fachos de verde, a mata e o talhão, a espiga e a pluma, a carne e o farto.
Chão tapera, primo irmão das Gerais, quem me dera ter te visto antes. Vida de gado, som do
pinho, história de alguém sem trem com ais de outrora. Coração do Brasil, planalto da morena
e do verde, gosto de brilhar, carne sabor Pequi, garra de ser o que se é. Cora te viu com a
alma, e eu te vejo Goiás. Sem mais.
De todo canto há lembrança. É o campo, a carne, um feitio de pujança, forte a todo coração e
mudança. Um mesmo povo em distintos chãos, a fim de se alimentar de sonhos e prover a
nação. Invento aqui essa poesia em prosa, versos rurais de um ente urbano, pretensioso
inspirado pelos poetas do mato. Cora, Manoel, Guimarães e Almir. O Campo visto por olhar de
criança, puro e otimista. Verso água, estrofe dura, tanto resvala que um dia cura.
Avante com brasa nos pés! Com desejos mil, Brasil.
Texto de José Pádua
Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP, Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal, Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário, Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.
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