fome na pandemia

Receita solidária: como ajudar a combater a fome na pandemia de covid-19

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A fome na pandemia é uma realidade dura que atinge cada vez mais brasileiros. Segundo uma pesquisa recente, 8 em cada 10 famílias entrevistadas não teriam condições de se alimentar se não recebessem doações. Saiba como ajudar quem precisa.

O Blog da Carne compartilha diariamente receitas e dicas deliciosas de preparo de carnes. Porém, infelizmente, sabemos que o consumo de carne não tem sido uma realidade para muitos brasileiros principalmente devido à crise econômica desencadeada pela pandemia de covid-19.

Por isso, a receita de hoje é solidária e tem como ingredientes mais de dez iniciativas de Norte a Sul do Brasil que visam combater a fome na pandemia.

Por que ajudar quem passa fome na pandemia?

Só em 2020, o preço da carne bovina subiu 35% (CEPEA, 2020), pelos motivos que explicamos na entrevista com o economista Thiago Bernadino de Carvalho.

O valor está tão alto, que tem supermercado considerando carne como item de luxo e colocando até lacre de segurança.

Por outro lado, o consumo caiu 5% em 2020, menor patamar da série histórica da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), que teve início em 1996. Esta queda foi reflexo da queda do poder aquisitivo da população frente ao aumento de preços.

Pior, não é só a carne que está fazendo falta na mesa dos brasileiros. Pressionado pela alta da carne, a inflação do “prato feito dos mais pobres preparados em casa” – que inclui arroz, feijão, batata, tomate, carne de segunda e óleo de soja – teve um aumento de 40%, segundo a consultoria GFK.

Só durante a pandemia, o preço dos alimentos aumentou 15%, o triplo da inflação geral no mesmo período (que já é alta), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O aumento foi reflexo principalmente da desvalorização cambial da nossa moenda em cerca de 22%, com o dólar comercial ultrapassando R$ 5,5.

O preço do gás de cozinha também não ajuda ao superar R$ 100 por botijão em muitas cidades.

Com a maior parcela do público do auxílio emergencial (mais de 67 milhões) deve receber a menor cota do benefício, que corresponde a apenas R$150, seguido por R$ 250 e R$ 350, respectivamente, a conta das famílias não fechará e a grande preocupação é que a fome aumente ainda mais no Brasil.

Segundo projeção da FGV Social, 27 milhões de brasileiros viviam à linha da extrema pobreza (R$ 246 ao mês e R$ 8,20 ao dia) em janeiro de 2021. Este número, que corresponde a mais que a população da Austrália, é o maior da última década e possuiu um aumento significativo em relação ao semestre passado, quando havia pagamento do auxílio emergencial.

E o número de pessoas que já vivem na extrema pobreza (renda mensal de até R$ 89) chegou a mais de 14 milhões de famílias em outubro de 2020. O balanço do Ministério da Cidadania é o maior desde 2014.

O mais recente estudo do Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e a Central Única das Favelas (Cufa) realizado com 2.087 pessoas maiores de 16 anos em 76 favelas do Brasil, no período de 9 a 11 de fevereiro de 2021, trouxe mais alguns números preocupantes:

  • 68% dos entrevistados não tiveram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia nas últimas semanas do levantamento;
  • 93% dos entrevistados não possuem nenhum dinheiro guardado;
  • 71% das famílias estão sobrevivendo com menos da metade da renda que obtinham antes da pandemia;
  • 8 em cada 10 famílias não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza ou pagar as contas básicas se não tivessem recebido doações;

Em entrevista para o Correio Braziliense, Renato Meirelles, que é presidente do Instituto Locomotiva e Fundador do Data Favela, disse:

“É muito comum nas pesquisas ouvir a frase: na favela se o seu vizinho tem comida, ninguém passa fome. No sentido de que eles dividem o pouco que têm, mostrando uma solidariedade impressionante nesse cenário”, disse Meirelles.

Se quem mal tem do que se alimentar nesse período tão difícil compartilha, por que quem tem um pouco mais de condição não pode ajudar?

Como ajudar quem passa fome na pandemia?

Pode parecer uma visão romantizada, mas toda doação começa com o coração. Se você tiver um orçamento limitado, doe um pequeno valor. Se muitos doarem R$10, é possível alcançar um bom montante.

Se sua condição financeira estiver um pouco melhor, pesquise, escolha uma iniciativa e reserve um valor mensal de contribuição assim como faz para um serviço de streaming de música ou séries. Na maioria das doações, você pode acompanhar a ajuda pelas redes sociais e na própria prestação de contas da instituição organizadora.

Agora, se você tiver uma condição financeira confortável, aconselho escolher um portfólio de ações. Ora, não são do mercado financeiro, mas geram resultados de impacto no curto prazo, que é colocar comida no prato de alguém que passa fome. Lembrando que algumas doações podem ser restituídas no imposto de renda.

A boa notícia é que, segundo o Monitor das Doações COVID 19, 582.070 doadores contribuíram com R$ 6.592.613.304 em resposta à pandemia. Porém, o número de doações caiu consideravelmente em 2021 e todos os dados apresentados mostram a necessidade de incentivarmos e aumentarmos as doações. Vamos doar?

Como escolher para quem doar?

Ao realizar uma pesquisa online e com amigos de diferentes estados, selecionei uma série de iniciativas que visam combater a fome na pandemia:

  • Tem gente com fome: com doações a partir de R$10, serão revertidas em alimentos, produtos de cuidados com saúde e higiene, no valor equivalente a R$ 200 mensais por família, num período de três meses, totalizando R$ 133.737.000 para 222.895 famílias de todas as regiões do Brasil. A iniciativa contempla mais de 200 organizações coordenada pela Coalizão Negra por Direitos, juntamente com a Anistia Internacional, Oxfam Brasil, Redes da Maré, 342 Artes, ABCD – Ação Brasileira de Combate às Desigualdades e Nossas Rede de Ativismo. O valor mínimo de R$10 corresponde a dois quilos de comida que serão distribuídas, segundo os organizadores. Site: https://www.temgentecomfome.com.br/
  • Mães da Favela: com o objetivo de contribuir com mães que moram na favela e enfrentam os impactos da pandemia, o projeto conta com doações financeiras, cestas básicas ou materiais de limpeza. As cadastradas recebem um vale alimentação de R$ 240, que pode ser dividido em duas parcelas de R$ 120. Em 2020, o programa entregou mais de 20 toneladas de alimentos, impactando mais de 5,5 milhões de pessoas e 1,3 milhão de famílias em mais de 5 mil favelas do Brasil. Idealizado pela Central Única das Favelas (CUFA), a iniciativa foi finalista do Prêmio Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19.  Site: https://www.maesdafavela.com.br/
  • Comunidade Viva Sem Fome: a rede de solidariedade fruto de uma aliança estratégica entre a Associação Imagem Comunitária (AIC), a Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, a Associação Mineira de Supermercados (AMIS) e o Movimento Dias Melhores. O objetivo do projeto é assegurar um um kit mensal de alimentos básicos e itens de higiene e limpeza para cerca de 1200 famílias da Região Metropolitana de Belo Horizonte em situação de extrema pobreza, podendo esse número ser ampliado. Site: https://www.acaocomunidadeviva.org.br/
  • Corona no Paredão – Fome Não: iniciativa da ONG Gerando Falcões, que mobilizou R$ 25 milhões para criar um benefício de cartões de alimentação para 512 mil pessoas entre março e junho de 2020. Finalista do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19, o cartão terá duração de dois meses e com o valor de recarga de R$ 150 por mês. Segundo a ONG, 82% das famílias seguiram em isolamento depois de receberem o valor e 70% delas não teriam condições de pagar as contas ou comprar comida caso não tivessem recebido este benefício. Site: https://gerandofalcoes.com/coronanoparedao
  • Mesa Brasil: rede nacional de Bancos de Alimentos contra a fome e desperdício formada por mais de 3.000 parceiros doadores (produtores rurais, atacadistas e varejistas, centrais de distribuição e abastecimento e indústrias de alimentos, além de empresas de diversos ramos de atividade). O programa atende pessoas de todo o País em situação de vulnerabilidade social e nutricional assistidas por entidades sociais cadastradas.  De janeiro a dezembro de 2019, foram 1,4 milhão de pessoas atendidas.  Site: https://www.sesc.com.br/mesabrasil/
  • Campanha Alimenta Manaus: com o objetivo de reduzir a situação de vulnerabilidade social das famílias por meio de uma plataforma de comercialização e distribuição de alimentos de fornecedores locais, conectando pequenos agricultores da Região Metropolitana de Manaus às famílias em situação de insegurança alimentar. Este segundo grupo contempla também populações indígenas do meio urbano que não são atendidas por programas sociais governamentais e refugiados venezuelanos, além da população vulnerável de Manaus. Há três opções de doações: R$ 60, R$ 160 e R$ 260. Saiba mais: https://projetocolabora.com.br/ods3/campanha-em-manaus-conecta-agricultores-organicos-a-comunidades-em-inseguranca-alimentar/
  • Regatão do bem: o projeto do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM) tem fornecido cestas básicas e materiais e segurança para famílias e associações para comunidades em comunidades em vulnerabilidade e famílias em risco. Mesmo com todas as dificuldades logísticas da região, o projeto conseguiu entregar mais 5,5 mil cestas básocas e 92 toneladas de alimentos em 13 municípios do estado, impactando cerca de 40 mil pessoas. Site: https://idesam.org/regataodobem/#doacoes-regatao
  • Pão do Povo da Rua: o projeto social criado por Chefs do Instituto de Pesquisa da Cozinha e da Cultura Brasileiras (ipcb.) distribui mais de 1.000 pães e 500 bolos doces por dia para moradores de rua da cidade de São Paulo, junto às ações de acolhimento do Padre Julio Lancelotti e outras ONGs. A iniciativa e tem o objetivo de chegar a 480 mil pães até dezembro de 2021, quando completa um ano de atividade. É possível doar uma saca de farinha (25 kg) ou com a vaquinha virtual, sendo que com R$ 50 é possível fabricar 100 pães. Site: https://www.ipcb.net.br/doa%C3%A7%C3%A3o-marmita-solid%C3%A1ria-ipcb
  • SP Invisível: o movimento de humanização na cidade de São Paulo realiza diversas iniciativas durante o ano, como campanhas de arrecadação de alimentos no Natal e kits de inverno nos meses mais frios. E, no momento, acabaram de lançar a “Páscoa Invisível”, na qual irão distribuir para crianças em situação de vulnerabilidade: 1 ovo de páscoa, 1 carta da esperança escrita pelos voluntários, 1 kit higiene contra a covid-19, 1 máscara e uma refeição completa. Site: https://www.spinvisivel.org/pascoainvisivel

O momento é delicado, difícil e incerto. Porém, com pequenas ações podemos conseguir grandes resultados. Se com R$50 é possível oferecer uma refeição para 100 pessoas, imagine o que uma corrente de solidariedade não pode fazer.

Eu me organizei para doar R$50 mensais nesse período mais difícil, dividindo R$25 em duas iniciativas por mês.

Para combater o cornavírus, temos a vacina. Para a fome, a solidariedade.

O momento pede ajuda, empatia e coletividade para combater a fome das pessoas. Em um país que um dos maiores produtores de alimentos do mundo e tem mais boi que gente, é inconcebível as pessoas passarem fome!

Como diz a letra da canção da campanha Natal Sem Fome 2020, composta por Xande de Pilares, Gilson Bernini, Emicida e Mosquito: “quem tem fome, tem pressa!”

“Tem barriga vazia fazendo chorar
Mas a cidadania tem uma missão
Fazer esse mundo se mobilizar
Pra nunca mais faltar o arroz e o feijão
Só a corrente da dignidade
Pode mudar essa realidade
E dar um fim nessa situação
Pergunte pro teu coração
Que ele vai te responder
Como faz bem fazer o bem
E ver o bem prevalecer
Pergunte pro seu coração
Que ele vai te responder
Como faz bem fazer o bem
E ver o bem prevalecer
Vem ajudar a renovar
A esperança de alguém
O que é pouco pra você
Pode salvar quem nada tem”.

Outras referências:

https://www.cepea.esalq.usp.br/br/diarias-de-mercado/-5.aspx

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,preco-da-carne-puxa-inflacao-de-consumidor-de-menor-renda,70003638693

https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2021/03/13/moradores-de-favelas-nao-tem-dinheiro-para-comida-diz-pesquisa-instituto-data-favela.ghtml

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Juh Chini

Mestre em Gestão Internacional na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Economista na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ-USP). Fundadora do Blog da Carne, Líder de Inteligência de Marketing na @Tech, viajante, palmeirense e apaixonada por churrasco, família, amigos e uma mesa de bar. "A vida é a arte do encontro!"

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