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Esperança ou Encruzilhada

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               Quem anda pelos confins desse Brasil rural já se deparou alguma vez com uma encruzilhada. Aquele ponto em que duas estradas de chão se cruzam, onde às vezes se confunde qual rumo tomar. Mais que apenas um cruzamento de vias, a encruzilhada mora no imaginário do homem do campo como o símbolo de um momento de desafio, escolha e renúncia. Ao mesmo tempo que também simboliza a esperança de ter um novo caminho. Na vida sempre estamos escolhendo por isso ou aquilo, assim como na gestão de uma fazenda. O produzir carne também é feito de encruzilhadas e esperanças.

                Empresas familiares de produção agropecuária se vêem em uma encruzilhada quando o negócio cresce a tal ponto que é preciso profissionalizar a gestão. Introduzir executivos e profissionais de fora para a condução dos negócios pode soar absurdo para membros da família que, mesmo não tendo perfil e capacidade, visam participar da gestão. Por outro lado, pode ser a esperança de que a empresa irá se perpetuar no futuro, já que decisões e mudanças estratégicas devem sobrepor emoções e diferenças internas, fazendo prevalecer a razão e a assertividade, pontos fundamentais para o fortalecimento e evolução de um negócio.

                A própria pecuária está diante de uma encruzilhada em razão da necessidade de produzir mais por área para poder sobreviver, pois as margens de lucro estão cada vez mais estreitas, o que demanda maior escala de produção. É um dilema aos pecuaristas ter que decidir entre o sossego e o prejuízo. Antigamente, ir para a fazenda era uma busca por descanso, pois os bois aparentemente cresciam e engordavam naturalmente nos pastos, sem exigir muita ajuda do homem. A natureza fazia sua parte, mas tardava em 3 a 4 anos para fazer o boi ficar gordo, eram poucos bois gordos por ano, mas suficiente para a demanda à época. Hoje, para manter os mesmos ganhos financeiros, o produtor precisa engordar mais bois e em menos tempo, e aí acaba o sossego. A fazenda se tornou uma operação complexa como qualquer outro setor da economia, exigindo planejamento, fluxo de caixa, gestão de custos e controles. Contudo, a harmonia de uma família ou de uma empresa depende muito dos resultados econômicos, não há paz quando falta dinheiro e há perda de patrimônio. Portanto, a esperança é que o trabalho pautado em uma boa gestão evite o prejuízo, criando uma nova sensação de sossego: as coisas caminhando bem.

                Mais dentro da porteira, as mudanças constantes no mercado trazem o desafio de decidir qual caminho seguir na seleção de rebanhos bovinos. Por muito tempo se comprou touros reprodutores apenas pelos critérios fenotípicos e visuais, isto é, os touros mais bonitos e “carcaçudos” eram os mais vendidos. Mas, tem crescido a vertente da avaliação dos resultados das progênies (filhos dos touros) por meio de medições massivas de peso ao desmame e perímetro escrotal, por exemplo. Nesse caminho o animal com os melhores índices de avaliação deve ser escolhido como reprodutor. É uma encruzilhada em que se encontram os selecionadores de gado, sexagenários que afiaram o olho e o instinto ao pé do eito para a escolha dos melhores. Como deixar avaliações estatísticas sobreporem o faro desses boiadeiros? A esperança é que esse faro seja comprovado e validado pelos números, pois as análises podem ser a ferramenta para que os compradores continuem a adquirir, sabendo que o olho e os números estão alinhados, pois como disse Edward Deming “acredito em Deus, todos os outros devem apresentar dados e fatos”.

                Encruzilhadas existem há séculos, percorridas a norte ou sul, leste ou oeste. Não se pode parar, pois o tempo e natureza são implacáveis. Escolhas e renúncias, acima de tudo, a Esperança. A expectativa de que o melhor virá, e isso nos move. Na vida cotidiana, na escolha de um presidente, na gestão de uma fazenda. “Quem leva a certeza no meio do peito não teme a empreitada que virá a seguir”.

Texto de José Pádua

Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP,  Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal,  Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário,  Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.

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