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Parar Rodeio

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Inúmeros conhecimentos práticos oriundos da experiência cotidiana e dos costumes vêm sendo repassados ao longo das gerações e, por assim dizer, transcendem às técnicas na pecuária de corte. E mais: estão dentro da porteira antes mesmo de existir qualquer ferramenta ou tecnologia. São noções empíricas obtidas conforme os erros e acertos no passo da história campeira. Sob a astúcia do instinto boiadeiro criaram-se conceitos e premissas práticas fundamentais, tal como a técnica do “parar rodeio”, rotina base nos manejos campo a fora, sobre a qual escrevo aqui.

“Parar rodeio” é a prática de agrupar todo o rebanho de um pasto em um determinado lugar, geralmente nos cantos, onde as cercas laterais ajudam na contenção. Antigamente, quando não havia cercas ou devido às grandes extensões das invernadas, os antigos tinham por hábito assinalar o local do rodeio cravando um pau alto com uma tira de couro pendurada, que também servia para “chamarisco” do gado. Nos dias de hoje o local também coincide com os bebedouros e cochos de suplementos, o que torna a ação uma forma de levar os animais até o alimento e a água. Em fazendas com uso de pastejo rotacionado se para o rodeio nas praças de alimentação, bem ao centro dos piquetes em formato de pizza ou quadrado.

“Parar rodeio” tem como principal finalidade revisar o gado, fornecer suplemento mineral, tratar os animais enfermos, “curar” o umbigo de bezerros recém-nascidos, assim como apartar, caso necessário, certos animais para outro lote ou para levar ao curral. Ao mesmo tempo, ao “parar rodeio” os campeiros estão criando uma conexão com os animais, os quais se acostumam com a presença humana, associando-a com boas ações, tais como alimento e saúde. Isso tem grande impacto na mansidão do rebanho, cujo comportamento se torna de tranqüilidade e receptividade quando freqüente o rodeio, o que evita o estresse e possíveis lesões físicas para campeiro e animal.

A frequência da prática do “parar rodeio” reflete o zelo dos campeiros para com os animais. Reses pouco visitadas, além de eventualmente se tornarem mais ariscas, podem adquirir enfermidades, bicheiras em feridas e lesões físicas, tais como enrosco em arame ou ingestão de corpo estranho, que quando não identificadas em tempo hábil podem ser fatais. Bezerros neonatos em época de parição precisam ter seu umbigo higienizado com a “cura”, bem como mamar o colostro (conteúdo presente no leite com anticorpos fundamentais). Um campeiro “materneiro” caprichoso é atento ao umbigo e às tetas da vaca mãe para saber se foram realmente mamadas.

Peões e capatazes apesar de manusearem tabletes e planilhas de Excel, não deixam de juntar seu rebanho no rodeio. Um instinto cravado na sua mente, reforçado pelos aprendizados diários desde guri, direciona-os para essa rotina básica, porém fundamental. O advento de tecnologias que cada vez mais facilitam o trato com o gado não fizeram desaparecer práticas de manejo centenárias, pois ciência e prática deverão caminhar juntas. Dentro da porteira a tradição e inovação são amigas, somam-se, não param, rodeiam-se.

 

José Pádua

Especialista em Produção e Nutrição de Ruminantes pela Esalq-USP,  Médico Veterinário pela Unesp-Jaboticabal,  Consultor-sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário,  Membro da Comissão Jovem da Famasul-MS.

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