Caos em meio à esperança

Caos em meio à esperança

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Olá, pessoal!

Há exatamente um ano eu escrevi o artigo “Esperança em meio ao caos”, um dos meus conteúdos de opinião.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) havia decretado estado de pandemia do então novo coronavírus, o mundo corria atrás de reduzir as crescentes mortes e o Brasil enfrentava as primeiras consequências, com o comércio fechando, medidas restritivas e os primeiros óbitos.

“Onde tudo isso vai parar?” nos perguntávamos.

Um ano depois, eu não sei a resposta. Se antes havia a esperança da criação de uma vacina para nos tirar do caos, hoje há um caos em meio à esperança dessa pandemia acabar com todos vacinados.

Caos em meio à esperança

Vivemos hoje “o maior colapso hospitalar e sanitário da história”, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). É o pior momento da história do Brasil.

Estamos nos aproximando de 300 mil mortes no país, com hospitais públicos e privados colapsando por falta e leitos, oxigênio, insumos e remédios.

Enquanto as imagens esperançosas de avós se vacinando circulam no feed, relatos de perdas de amigos, parentes e até famílias inteiras inundam todas as redes, nos lembrando a tsunami que vivemos.

Há um ano, eu temi pelo comércio e pelos empreendedores do mundo da carne, motivo pelo qual volto a escrever sobre este tema em um portal de conteúdo sobre carne.

Infelizmente, vi muitos perdendo totalmente a renda, com o cancelamento de eventos, fechamento de seu estabelecimento ou mesmo por demissões em massa.

O caos para o comércio

Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Abrasel, 72% dos estabelecimentos de São Paulo estão com prejuízo, com estimativa de demissão de 20 mil funcionários no estado. Na Bahia, a previsão é que cerca de 74% dos bares e restaurantes já fecharam ou vão fechar.

Em entrevista para o Guia da Cerveja, o presidente da Associação estimou que a grande maioria das empresas deste segmento demorarão pelo menos dois anos para retomar ao endividamento pré-crise e, dos cerca de 70% que retornaram às atividades após a primeira onda, entre 10% e 15% irão fechar agora na segunda onda. Para ele, apenas no segundo trimestre de 2021 o setor vai conseguir operar dentro da normalidade.

Falta de urgência no combate à crise econômica

Enquanto empreendedores e empresários correm contra o tempo para salvar os seus negócios, a ajuda vem a passos lentos. No âmbito federal, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) será transformado em uma linha de crédito permanente.

Criado pela Lei nº13.999 no dia 18 de maio de 2020 para como um sistema de crédito emergencial ajudar as micro (faturamento anual de até R$ 360 mil) e pequenas empresas (faturamento anual de até R$ 4,8 milhões), na primeira fase do programa foram disponibilizados R$ 15,9 bilhões diante do Fundo Garantidor de Operações (FGO), assegurando R$ 18,7 bilhões em crédito, que foi distribuído entre 211 mil micro e pequenas empresas neste período.

Na segunda fase, o governo liberou em setembro R$ 12 bilhões em setembro e na terceira foram liberados R$ 10 bilhões. As empresas podiam pedir empréstimos de até 30% do seu faturamento em 2019, com juros cobrados pela Selic, acrescida em 1,25% ao ano. Segundo o Governo, mais 500 mil empresas foram beneficiadas.

Para 2021, a linha de crédito será disponibilizada de uma forma descentralizada, ou seja, por meio de outras instituições financeiras, como bancos e cooperativas de forma a acelerar o processo de liberação.

Porém, estamos no pior momento da pandemia que era prevista por médicos e infectologistas desde o início de dezembro, bem como as consequentes medidas restritivas e a proposta do novo Pronamp ainda está tramitando na câmara, assim como o auxílio emergencial “está para ser liberado”.

Falta urgência no combate à crise econômica. Depois de mais de um mês de recesso parlamentar no início do ano, já era de se esperar tanto atraso para medidas urgentes. Lembrando que a linha de crédito é um empréstimo e não transferência de renda.

Do lado privado, também há uma corrida para que a oferta de crédito a taxas pequenas ocorra antes dos sucessivos aumentos da taxa SELIC previstos para 2021. Após esta taxa permanecer a 2% desde agosto de 2020, o Banco Central elevou para 2,75% em reunião do Copom realizada em março.

Aumentar a taxa de juros é uma forma de conter o aumento da inflação, mas um aumento tão significativo como este com a expectativa de alta para os próximos meses, pode dificultar o acesso ao crédito, que tão necessário nesse momento.

A corrida pela oferta de crédito pelas instituições privadas

Porém, além dos bancos tradicionais que ofereceram taxas mais atrativas para pessoas físicas e jurídicas, bancos digitais como o BTG criaram opções de crédito para pequenas e médias empresas (PMEs). Fintechs como Creditas, IOUU, Nexoos, Biz Capital, Tutu Digital, Ulend e PicPay têm sido opções para as PMEs e até microeemprendedores individuais (MEIs) conseguirem um alívio de caixa nesse momento.

Até quem não era do segmento buscou alternativas para oferta de crédito. Foi o caso do iFood, que pela MovilePay e outros parceiros estão oferecendo empréstimos para os restaurantes e bares cadastrados na plataforma. Recentemente, o Rappi também liberou R$ 100 milhões para ajudar restaurantes parceiros.

Carne digital: a explosão das vendas online

Com as medidas restritivas do início da pandemia e no momento atual sendo mais presentes de norte a sul do país, empreendedores e empresários têm reinventado o seu modelo de negócios. Para não dizer que não falei das flores, o e-commerce e o delivery tiveram uma expansão significativa e ajudaram muitos negócios a sobreviverem e até a crescerem no período.

O comércio eletrônico avançou 10 anos em 90 dias durante a crise do coronavírus, segundo a consultoria McKinsey. Só em junho de 2020, as vendas online cresceram 100%, ou seja dobraram. E os segmentos que mais cresceram no período foram alimentos e bebidas, com alta de 241%, segundo dados do índice MCC-ENET em parceria com o Movimento Compre & Confie.

Em um estudo realizado nos Estados Unidos pelo Consumer Trends Report em outubro de 2020, 34% dizem que seus gastos online aumentaram no terceiro trimestre, mesmo enquanto os gastos gerais estavam caindo, 48% dizem que ficariam bem se nunca mais fizessem compras em uma loja física – contra 39% no primeiro semestre – e 48% acreditam que a maioria das suas compras acontecerá online no futuro – contra 69%.

Outra pesquisa também aplicado com mil consumidores de carne nos EUA encontrou números interessantes sobre a compra online:

  • 54% dos consumidores compraram carne online desde o início da pandemia
  • 26% disseram que a principal forma de compra de carne será online após a pandemia
  • 32% estão experimentando marcas de carne que não costumavam comprar
  • 60% estão testando novas receitas
  • 60% estão congelando carne/frango mais do que o normal

Comprar carne online é um caminho sem volta. Isso não significa que as lojas físicas irão acabar, mas é um canal de venda importante para que as lojas possam comercializar via site, aplicativo ou mesmo pelo whatsapp.

Na busca de comodidade, veremos os consumidores continuando a comprar online mesmo depois da pandemia. Até pequenos varejistas já estão com canais digitais e são potencializados em termos de público pelos aplicativos de entrega como iFood e Rappi. Gigantes como Magazine Luiza e Americanas também estão entrando no segmento de mercado e açougue.

Assim, carnes padronizadas serão mais demandadas já que um grande entrave de comprar carne sem ver é a garantia de qualidade da peça.

Um exemplo de superação e mudança no modelo de negócios foram as meninas do Churras Delas. Depois do cancelamento de todos os eventos, elas criaram um delivery de carnes defumadas.

Em entrevista para o Blog da Carne, elas nos contaram como superaram a dificuldade de entregar carne defumada com a que fica assim que tira do pit e encontraram uma forma de fazer com que a carne fique tão deliciosa como. Assim como as meninas, muitos empreendedores se “reinventaram”.

O papel dos consumidores

Além da necessidade do poder público e privado se mobilizarem para oferta de crédito e ajuda econômica, todas as pessoas que tem uma posição financeira mais confortável podem também contribuir com os estabelecimentos.

Se você conseguir, peça pelo menos um delivery por semana e dê preferência para os pequenos e da sua região. Se não encontrar nos aplicativos de entrega, busque o telefone no Google. E divulgue quando o prato chegar por um story marcando o estabelecimento, divulgando e incentivando as pessoas a também pedirem delivery.

E não se esqueça de dar uma gorjeta para os entregadores, que estão se arriscando nas ruas para nos deixar em segurança em casa

A luz no final do túnel

A vacinação está muito lenta, mas ela existe, já imunizou nossos heroicos profissionais de saúde e muitos idosos. A vacina nos dá mais certeza que a pandemia irá passar. Ao ver países como Israel, que já imunizou mais da metade da sua população em plena retomada das atividades, entendemos que será possível voltarmos ao normal um dia.

A ciência tem tido um papel crucial desenvolvimento de vacinas em tempo recorde, além de todos os estudos que estão sendo aplicados de forma rápida e precisa.

Caos, caos e caos

Sginificado da palavra caos segundo o dicionário online Michaelis

Infelizmente, tivemos péssimas lideranças, falta de planejamento, estratégia, organização, gestão, senso de urgência, visão de mercado e tanta incompetência que não é possível explicar.

Além da ineficiência na gestão da crise, vivemos um imensa falta de cidadania e senso de comunidade. As festas e viagens de finais de ano, aliadas ao carnaval que só existiu para os egocêntricos e a nova normalidade egoísta do dia-a-dia dos brasileiros que ignoraram o único tratamento precoce existente no momento, que é o distanciamento social, uso de máscara e o básico da prevenção do contágio, também foram responsáveis pela crise sanitária e econômica que vivemos.

Há um ano, eu imaginava que a crise iria nos unir e poderia até nos tornar melhores. Salvo exceções, a pandemia mostrou o lado ruim da humanidade desumana e como a necessidade individual predomina sobre a coletiva em nossa sociedade.

Hoje, o mundo nos olha sem entender como o sexto país em população mundial tem o segundo maior número de mortes em uma subida desenfreada. E porque sendo o epicentro da doença mundo, não consegue comprar vacinas, nem insumos e assiste seu colapso realizando guerras ideológicas e com pautas nada essenciais sendo discutidas.

Poderíamos ter planejado uma compra de centenas de milhares de doses de vacinas enquanto a população fazia o mínimo ao tomar os cuidados necessários e estarmos nesse momento retomando as atividades e a economia.

Não fizemos.

O resultado é o caos em meio à esperança.

Espero que daqui um ano eu possa escrever um artigo de esperança em meio à esperança. Hoje é impossível.

Enquanto isso, ajude quem passa fome. Eu selecionei mais de dez iniciativas solidárias aqui.

E eu te ajudo a se entreter em casa com 7 dicas de programas e séries gastronômicas aqui.

Se puder, fique em casa. Se não puder, use máscara e tome os cuidados necessários.

Disclaimer: esse é um artigo de opinião e não reflete necessariamente a da equipe do Blog da Carne.  

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Juh Chini

Mestre em Gestão Internacional na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Economista na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ-USP). Fundadora do Blog da Carne, Líder de Inteligência de Marketing na @Tech, viajante, palmeirense e apaixonada por churrasco, família, amigos e uma mesa de bar. "A vida é a arte do encontro!"

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