Quando falamos de sustentabilidade na pecuária, muitas pessoas associam o termo com a sustentabilidade ambiental. Mas, como falamos no artigo “Proteína Animal: produção com propósito por um planeta mais saudável”, o conceito de sustentabilidade é composto pelo “tripé da sustentabilidade”.
Por que conhecer o conceito?
Entender o que é a sustentabilidade é fundamental para todos os agentes da cadeia produtiva, do pecuarista ao consumidor. Ora, como vou querer produzir uma carne sustentável, se eu mal entendo no que consiste o termo? Ou, como vamos cobrar que a carne que eu consumo seja sustentável, se possuímos uma visão equivocada ou incompleta do que é de fato sustentabilidade na pecuária?
O que é sustentabilidade? Etimologia (origem da palavra) e conceito
“Sustentável” vem do latim “sustentare”, que significa “sustentar, defender, favorecer, apoiar, conservar, cuidar”¹.
Sustentabilidade é “um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos processos econômicos, sociais, culturais e ambientais globais”¹.
O conceito surgiu após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (United Nations Conference on the Human Environment – UNCHE), que aconteceu em Estocolmo (Suécia) em 1972 e foi a primeira sobre sustentabilidade realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Porém, foi o Relatório Brundtland de 1987, intitulado como “Nosso Futuro Comum” e elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que apresentou o conceito de desenvolvimento sustentável como “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras de suprir as suas“.
Assim, foi no Rio Janeiro, durante a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92 ou Rio-92) em 1992, que o conceito de desenvolvimento sustentável foi consolidado como um objetivo de longo prazo pelos países participantes, com discussão de propostas para conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos naturais.
O tripé da sustentabilidade
A sustentabilidade é formada por três dimensões, ou um tripé da sustentabilidade (do inglês “Triple Bottom Line”). Também conhecido como os 3 P’s da Sustentabilidade, o tripé é formado pela sustentabilidade econômica (Profit), social (People) e ambiental (Planet). Iremos abordar cada uma de forma mais aprofundada nos próximos artigos.
Fonte: Lordelo (2017).
O termo foi proposto por John Elkington em 1997 e foi amplamente discutido no artigo “The Triple Bottom Line: What is It and How Does It Work?” (The Triple Bottom Line: O que é e como funciona).
O “Triple bottom Line” conceitua o desenvolvimento sustentável como uma relação saudável entre as necessidades do planeta, das pessoas e o lucro das empresas, servindo como um guia na gestão empresarial.
Assim, empresas e instituições públicas e privadas devem se desenvolver cada uma de forma concomitante, ou seja, ao mesmo tempo, além de buscar indicadores para medir a performance em cada dimensão e de forma geral.
Neste contexto, estudos apontam que 68% das multinacionais da Europa Ocidental fazem relatórios de sustentabilidade medindo conforme o tripé. Nos Estados Unidos, a porcentagem é de 41%. No ranking global das empresas mais sustentáveis de 2020, encontramos as brasileiras Banco do Brasil (9º), CEMIG (19º) e Natura (30º) entre as 50 melhores do mundo.
A sustentabilidade na pecuária
Podemos utilizar a abordagem do tripé da sustentabilidade na pecuária em todos os elos de sua cadeia de valor. Uma fazenda, por exemplo, pode acompanhar indicadores financeiros básicos (ex. DRE – Demonstração do Resultado do Exercício), com os de pessoas (funcionários com carteira assinada e tempo de contratação) e ambientais (uso de água, tamanho da reserva legal etc).
O Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) possui o Guia de Indicadores de Pecuária Sustentável (GIPS), “uma ferramenta de autoavaliação com o objetivo de fornecer informações e orientações sobre a pecuária sustentável”.
O GIPS apresenta uma visão prática da sustentabilidade na pecuária e “é destinado tanto aos que acabaram de iniciar sua jornada, quanto aos que têm resultados para demonstrar. Além disso, é gratuito, confidencial e aplicável a todos os elos da cadeia”.
Confira a cartilha completa e as específicas para: insumo e serviços, indústria, instituições financeiras, setor produtivo, sociedade civil e varejo e restaurante.
No caso da produção, temos exemplos de fazendas que atuam com modelos de excelência no que tange gestão e governança, de forma geral. E contemplam ações de responsabilidade socioambiental com indicadores bem definidos e resultados publicados em relatórios periódicos. Além disso, temos modelos que já medem e/ou estimam a emissão de gases de efeito estufa e o sequestro de carbono, a ponto de produzir a Carne Carbono Neutro (CCN).
Também acompanhamos bons exemplos nas cooperativas agropecuárias, que fomentam o desenvolvimento sustentável com os cooperados. Como muitas vezes são familiares e possuem pouco acesso aos modelos inovadores de gestão. As associações do setor também fazem um trabalho de educação e acompanhamento junto aos produtores.
Assim, seja na empresa de genética, indústria de insumos, fazenda, frigorífico, no açougue, mercado ou restaurante, o tripé é uma abordagem completa e que auxilia no desenvolvimento sustentável dos negócios de forma econômica, valorizando e desenvolvendo pessoas e respeitando o meio ambiente e os animais.
A sustentabilidade na pecuária não é um fim e sim um meio. Quanto mais pensarmos de forma sistêmica e considerarmos a cadeia produtiva como um todo, mais valor agregado teremos no produto final e maior será a contribuição que deixaremos para as futuras gerações.
Uma parceria de propósitos
Este artigo é uma parceria do Blog da Carne com a Elanco Saúde Animal e parte de uma série de conteúdos sobre boas práticas e sustentabilidade na pecuária.
Referências:
¹Laboratório de Sustentabilidade do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.lassu.usp.br/sustentabilidade/conceituacao/>. Acesso em 11 de dez. 2020.
Lordelo, R. Q. Responsabilidade ambiental e desenvolvimento sustentável. Disponível em:< https://medium.com/esquinaonline/responsabilidade-ambiental-e-desenvolvimento-sustent%C3%A1vel-ab33211b2127>. Acesso em 07 de jun. de 2020.
Juh Chini
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